Como jornalista que há 12 anos trabalha cobrindo a área de Educação queria aqui fazer uma reflexão sobre o papel da mídia na cobertura de Educação. Acho que tem a ver com o questionamento feito pela colega blogueira, já que o que é falado sobre a escola na imprensa tem um impacto na vida de alunos e professores. Especialmente o da escola pública, foco deste texto.
Lembro-me uma reportagem que li em um domingo qualquer há uns cinco anos, no Jornal do Brasil, que me deixou surpresa. A reportagem tratava de uma resolução municipal que extinguia o conceito I (Insuficiente) do processo de avaliação nas escolas da rede municipal de ensino do Rio. A matéria em questão, tratada editorialmente como especial, pois era dominical e ocupava uma página inteira do JB, poderia ter se debruçado sobre as implicações, boas ou não, para a escola, de tal medida. No entanto, ao invés de prestar um serviço à população carioca, em especial aos pais dos estudantes das escolas públicas de nossa cidade, explicando como os alunos seriam avaliados a partir daquele momento, por exemplo, deu como verdade que os mais de 600 mil alunos da rede municipal seriam aprovados automaticamente.
Fico pensando se aqueles que optaram por publicar a matéria têm noção da responsabilidade que é tratar de um tema tão importante quanto uma determinação que impacta diretamente a escola pública, onde estão envolvidos, no mínimo, 600 mil alunos, seus responsáveis, os 37 mil professores e tantos outros mil funcionários das escolas, baseadas em fontes tão pouco esclarecedoras quanto as ouvidas na ocasião. Três professores, cujos nomes foram substituídos pelas letras X, H e L. Esses, ao contrário de muitos, eram pouco informados.
Certamente, os (ou as) professores (as) X., H. e L ouvidos viviam as dificuldades e os desafios de quem trabalha em uma rede tão diversa quanto a carioca, mas não pareciam, naquele momento, conseguir sair da posição de vítimas – ou pior, “de figurantes”, como dizia a matéria - do sistema e relacionar suas dúvidas. Prestariam assim, um bom serviço a seus colegas docentes e ao ensino público. Um deputado estadual também foi ouvido à época... mas, que autoridade teria ele - a não ser a do cargo – para achar alguma coisa sobre o tema? A matéria pelo menos não informava nada se o parlamentar era educador ou especialista no tema. Os representantes do sindicato dos professores também tornaram-se fontes do repórter. No entanto, embora lutem legitimamente por salários e condições de trabalho melhores, desconsideraram, ao declararem que “o sistema foi imposto e que os professores sabem que os alunos vão passar sem aprender”, a capacidade dos docentes em realizar um trabalho consistente e transformador em sala de aula, como acontece de fato em muitas escolas neste país. Por final, o próprio prefeito em exercício, César Maia, declarava, nas últimas linhas da reportagem, muito mais como gestor, que era, de uma política pública, do que como um técnico em educação, que não era capaz de dar informações relevantes, neste caso, para o leitor.
O resultado de uma apuração trabalhosa, para uma matéria de domingo, normalmente encarada como especial e, por isso mesmo, com mais tempo de produção, era uma conclusão ininteligível para o leitor comum e assustadora para aqueles que têm como única opção a escola pública para seus filhos: o atual Sistema de Ciclos de Formação, implantado na rede municipal de ensino carioca naquele momento, acabava com o conceito Insuficiente e, por conta disso, aprovava automaticamente os alunos. O que é mesmo Sistema de Ciclos? O que significa mesmo a retirada do conceito I? E qual a sua relação com o Sistema de Ciclos? Qual a importância da reprovação ou da aprovação para o combate do fracasso escolar? Há especialistas em educação que saberiam responder essas e outras perguntas no âmbito do ensino público e fora dele. Há professores que estão na linha de frente das salas de aula, que certamente podem levantar questões relevantes para a melhora do ensino público do Rio. O que parece não ter havido na época da reportagem, e não há ainda hoje, verdadeiramente, é um interesse em defender a escola.
Educação não é tema caro à imprensa, isso é fato. A escola, especialmente a pública, parece não merecer o olhar atento dos repórteres e seus editores, a não ser que alguma desgraça aconteça em suas dependências, e dos muitos profissionais que vivem da/pela educação desta cidade. Uma pena, porque a escola não é um lugar qualquer. É o espaço e o tempo das oportunidades de milhões de crianças, jovens e adultos. Merece, por isso, atenção e respeito dos docentes que nela lecionam, dos alunos que nela estudam, dos vários profissionais que a tem como objeto de estudo e trabalho e daqueles que se aventuram a falar sobre ela.