quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Como se pode construir uma pedagogia multicultural e criativa em que não se reproduzam padrões, estereotipias, exclusões?

Percebemos um conceito muito difundido e aceito: o Brasil é um país plural cultural e etnicamente, que encanta... Mas quando nos referimos à educação vemos que essa diversidade não é levada em consideração... Ideologicamente, somos comprometidos. Na prática, nosso sistema educacional (re)produz desigualdades sociais, raciais, de gênero, sexuais...

As escolas, que deveriam se locais de fortalecimento e de valorização de todas as diversidades, são consideradas pelos nossos alunos como um lugar “chato” onde se deve “aprender e/a reproduzir” conceitos ultrapassados.

Assim, pensar em multiculturalismo, assunto complexo, controverso, principalmente quando o relacionamos à educação e mais especificamente à escola – coloca-nos diante de desafios em relação a percepção da diversidade humana;
• a desconstrução de verdades;
• a integração/interação de saberes;
• a desierarquização das diferenças;
• visões diferenciadas do mundo...

Vivemos em uma sociedade heterogênea, composta por diferentes grupos com diferentes interesses, diferentes classes e diferentes identidades culturais ... E todas essas diferenças em permanente contato, convivência e conflito.

Stuart Hall (2003) identifica pelo menos seis concepções diferentes de multiculturalismo na atualidade:
1. Multiculturalismo conservador: os dominantes buscam assimilar as minorias diferentes às tradições e costumes da maioria;
2. Multiculturalismo liberal: os diferentes devem ser integrados como iguais na sociedade dominante. A cidadania deve ser universal e igualitária, mas no domínio privado os diferentes podem adotar suas práticas culturais específicas;
3. Multiculturalismo pluralista: os diferentes grupos devem viver separadamente, dentro de uma ordem política federativa;
4. Multiculturalismo comercial: a diferença entre os indivíduos e grupos deve ser resolvida nas relações de mercado e no consumo privado, sem que sejam questionadas as desigualdade de poder e riqueza;
5. Multiculturalismo corporativo (público ou privado): a diferença deve ser administrada, de modo a que os interesses culturais e econômicos das minorias subalternas não incomodem os interesses dos dominantes;
6. Multiculturalismo crítico: questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política, as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. Apóia os movimentos de resistência e de rebelião dos dominados.

Com o(s) multiculturalismo(s) precisamos reconhecer que existem indivíduos e grupos que são diferentes entre si, mas que possuem direitos universais, comuns, e que a convivência harmônica depende da aceitação da idéia de compormos uma sociedade heterogênea na qual:

a) não poderá ocorrer a exclusão de nenhum elemento ;
b) os conflitos de interesse e de valores deverão ser negociados pacificamente;
c) a diferença deverá ser respeitada.

Resumindo: deve-se tolerar e conviver com aquele que não é como eu sou e não vive como eu vivo, e o seu modo de ser não pode significar que o outro deva ter menos oportunidades, menos atenção e recursos.

Voltemos ao título: Como se pode construir uma pedagogia multicultural e criativa em que não se reproduzam padrões, estereotipias, exclusões com as seguintes informações:

Dados educacionais
• No Brasil, cerca de 21 milhões de pessoas, entre 25 e 64 anos de idade nunca foram à escola (UNESCO/OCDE, 2000)
• Em 1998, dos alunos matriculados na 1ª série, 30% foram reprovados ou abandonaram a escola (INEP/MEC, 1998)
• Existem 15 milhões de analfabetos de 15 anos ou mais, o que representa 13,3%da população nesta faixa etária.
• Das mulheres acima de 40 anos, 32% não são alfabetizadas. Na zona rural, este número sobe para 60% (IBGE/PNAD, 1999)
• 20% - Índice de brasileiros acima dos 50 anos que não sabem ler nem escrever
• Desigualdade regional:
Proporção de analfabetos na população com 50 anos ou mais, por região:
Nordeste 41,3%
Norte 28,7%
Centro-Oeste 21,8%
Sudeste 13,2%
Sul 12,8%
Brasil 21,5%
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2008

Um comentário:

  1. Oi gente...parabéns pelo blog.
    Estou na escrita de minha tese de doutorado (pela PUC/SP) em multi e interculturalismo. Realmente existem várias possibilidades pçara o multiculturalismo, que é uma realidade contemporânea, independente de ser uma escolha curricular ou não. A questão é o tipo de abordagem multicultural que a escola está disposta a abordar. A perspectiva do apartheid, por exemplo, é multicultural (cada cultura no seu canto), assim como o ulticulturalismo revolucionário de Peter McLaren...uma proposta multicultural tipicamente de esquerda.....essa é a questão: qual a escolha multicultural (política) que será feita?
    Abraço!

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