quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A escola tem solução?

“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire

A educação contemporânea ainda hoje está ligada à idéia cartesiana do indivíduo e de seu aparelho cognitivo, sem considerar o que está à volta dele, sua história, sua cultura. Fala-se no cidadão do século XXI, de um mundo globalizado, mas a escola ainda não está preparada para educar esse cidadão. Veio a globalização, entramos na era da informação/conhecimento e a prática da educação permaneceu praticamente a mesma.
Diversas teorias mostram o surgimento de novos estilos de aprendizagem na nova geração de aprendizes, como, por exemplo, o modelo Honey e Mumford de estilos de aprendizagem, ou ainda, um conceito muito semelhante, a teoria das inteligências múltiplas, do norte-americano, Howard Gardner. No entanto, o sistema educacional ainda não encontrou um caminho eficaz para educar essa nova geração. A pedagogia moderna repete padrões arcaicos com foco no conteúdo e não no aluno e nas suas necessidades, interesses e seu estilo de aprendizagem.
Além disso, a Escola enfrenta outro grande desafio que é a criação de um sistema educacional que forneça os recursos necessários para integrar os grupos diferenciados que se encontram nesse ambiente. Atualmente, o princípio da educação ainda é a universalidade, desconsiderando o multiculturalismo presente na escola e na sociedade como um todo. Em outras palavras, o sistema educacional precisa buscar um modelo que “reconheça o particular enquanto alcance o universal” (Clarke, 196. p.13). Nesse sentido, o melhor caminho seria a educação intercultural. Enquanto a educação multicultural promove somente a “interpretação” das diferenças culturais, a educação intercultural é mais transformadora, promovendo diálogo e interação entre grupos diferenciados.
Enquanto a escola não reconhecer a existência de uma nova geração de aprendizes, seus diferentes estilos de aprendizagem e o multiculturalismo nela presente, ela está fadada ao fracasso. É preciso “replanejar” o currículo, o programa educacional e a sala de aula, tendo em mente os aspectos acima mencionados. É crucial respeitar as diferenças de cada aluno e não assumir que todos devem ou querem chegar ao mesmo lugar. Obviamente, não podemos esquecer a figura do professor na instituição Escola. Ele tem um papel fundamental no processo educacional, e na promoção de mudanças ou repetição de padrões.
Por que a escola não é, então, reinventada?
Talvez porque seu papel ainda seja, inevitavelmente, reproduzir o sistema ou sociedade na qual está inserida- a sociedade capitalista globalizada da era da informação. Quando falamos em era da informação e no sentido mais amplo de educação, pensamos consequentemente na indústria cultural e nas mídias. As mídias, como espaço de formação de opinião pública, podem ser fortes aliadas da escola e tornar o ensino/aprendizado mais rico, e que, por sua vez, também, estão a serviço das instituições hegemônicas, do sistema. Portanto, além de todos os pontos levantados anteriormente, é também imperativo o estudo das mídias pela mídia-educação como forma de auxiliar a escola na formação dos cidadãos e de seu senso crítico.

Diante de todas essas questões, podemos dizer que a escola tem solução?
Há diferentes visões com relação a isso. Ouça o depoimento de uma pedagoga.

2 comentários:

  1. Oi, Ana.
    Os destinos da escola são mesmo um assunto inquietante. Sou pedagoga, trabalho há 20 anos em educação infantil, fui e sou aluna, usufruindo das facilidades e dificuldades desta instituição... Por isso, é difícil pra mim entender uma possível sociedade sem escolas. Chega a doer o coração! Como diz Leonardo Boff, todo ponto de vista é a vista de um ponto. E eu falo de dentro da escola, minha voz está ancorada em todas estas questões que vc levanta: foco no sujeito desengajado, tendência ao universalismo, desprezo às diferenças culturas. Mas, ao mesmo tempo, sinto e vejo movimentos de inquietação e inconformismo. Concordo com o ponto de vista da pedagoga entrevistada, se a escola for entendida como um caldeirão de desejos, interesses, expectativas, demandas, temos futuro. Um futuro muito trabalhoso, árduo e cheio de desencontros, mas não é o Vinícios que diz que "... a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida..." Tõ me fiando neste encontro de todos na escola!
    Um abraço.

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  2. Interessante o depoimento da pedagoga. Acredito que partilho da opinião dela, que afirma que a escola é uma instituição importante nos dias de hoje, participa desse vulcão de informação e transformação que presenciamos e vivenciamos a cada dia. Mas que realmente precisa de uma mudança, e esta é possível. Existem estudos, existimos nós, estudiosos da área, buscamos alternativas. Existem gerações a vir. O mundo está em movimento e estamos sedentos de opiniões críticas que fujam do tradicionalismo. Será um caminho árduo. Mas um caminho que existe.

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