terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Minha querida bolsa Louis Vuitton: um estilo de celebridade para chamar de seu



As matérias “Quadrilha que roubava celebridades era liberada por jovem de 19 anos” (http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2009/11/07/quadrilha-que-roubava-celebridades-era-liderada-por-jovem-de-19-anos-914655275.asp) e “Uma quadrilha com grife de Hollywood”, veiculadas respectivamente nos dias 7 e 17 de novembro pelo jornal O Globo falam de uma quadrilha de jovens delinqüentes que roubava casas de celebridades como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Orlando Bloom. Os infratores utilizavam-se da internet para saber quando suas vítimas estariam ou não em casa. A partir do acontecido, pode-se discorrer sobre cultura e sobre sujeito.


O que chama atenção no caso, além da pouca idade dos envolvidos nos crimes que, a priori seriam cometidos por malfeitores com ampla experiência no mundo do arrombamentos de mansões, é uma das motivações do ato criminoso. A chefe da quadrilha, Rachel Lee “queria ter roupas de grandes estilistas e das celebridades de Hollywood que admirava”. Isto nos leva ao seguinte questionamento: por que uma garota de 18 anos comete crimes e coloca seu futuro em risco para ter roupas caras?


Para que esta garota chegue às ultimas conseqüências (o roubo), há uma grande valorização e vontade de pertencer, de alguma maneira, a um mundo de glamour e sofisticação, o mundo das celebridades. Entende-se que as roupas e jóias roubadas não são vistas por estes jovens como apenas simples objetos que podem gerar lucro, já que alguns artigos fruto do roubo eram mantidos e usados pela quadrilha, mas sim como artefatos fundamentais na construção de uma identidade que remete a celebridades. Estas imagens, em algum momento, deixaram de ser apenas bolsas e sapatos para se tornarem representações da cultura de culto às pessoas famosas. Segundo Hall (1997), estas imagens “podem parecer demasiadamente simplificadas, mas pode-se imaginar que se refiram a formações discursivas e culturais bastante complexas”. Uma bolsa Louis Vitton deixa de ter o caráter funcional e, a partir de uma série de discursos de uma determinada cultura, torna-se a representação de algo maior do que um simples invólucro de dinheiro e eventuais itens a serem carregados por mulheres.


Poole (1993) fala de uma galeria de objetos dentro de uma cultura que perdem o papel de utensílio e são promovidos a uma nova categoria, a de objetos “significativos ou representativos que aqueles com a identidade e conhecimento apropriado podem interpretar e avaliar”. Bolsas Louis Vitton são caras. O fato de serem caras lhe confere certa exclusividade. A exclusividade remete à unicidade. Quem usa bolsas Louis Vitton, segundo este raciocínio, é especial, único e tem dinheiro, valores culturalmente apreciados em nossa sociedade. Ainda segundo Poole, através de certos artefatos culturais podemos reconhecer uma existência objetiva em nossa forma de vida. Uma bolsa Louis Vitton passa a ser um recurso material que constrói a identidade um grupo.


Ao mesmo tempo em que os objetos roubados das casas das pessoas famosas contribuem para a formação dessa identidade cujo objetivo é o de se aproximar o máximo possível das celebridades, estes significados que tais objetos carregam para este grupo não são fixos ou imutáveis. Diz Hall, “O significado é inerentemente instável: ela procura o fechamento (a identidade), mas ele é constantemente perturbado (pela diferença)” (2006, p. 41). Bolsas, sapatos e jóias hoje marcam e distinguem um grupo de pessoas cujo estilo remete ao de celebridades, mas, no futuro, talvez essa associação se dê por meio de outro símbolo ou até mesmo a partir de um comportamento. A construção da identidade cultural também se dá pela diferença, como assinala Taylor(1994): “Nossa identidade é parcialmente formada pelo reconhecimento ou a ausência dele, freqüentemente pelo não reconhecimento dos outros. Uma bolsa Louis Vitton não é uma bolsa das lojas Renner ou da Citycol. É uma bolsa que não é nacional, é importada. Essa série de ‘nãos’ define não só o símbolo, mas também aqueles que se relacionam com o símbolo.


Não podemos afirmar que este tipo de identidade, que busca o glamour e o luxo, seja almejada daqui há 20 ou 30 anos. Nos dias de hoje existe uma grande valorização do que é público, da fama, mas os valores e os sujeitos que compõem a sociedade mudam, como Hall sinaliza “A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam”. No passado, os artistas do rádio eram pessoas famosas, enquanto atualmente é dado grande valor e atenção a participantes de reality- shows.


por: Thiago V.


Referências bibliográficas:


TAYLOR, Charles. El Multiculturalismo y “La Política del Reconhecimento”. México. Ed. Fondo de Cultura Económica, 1992


Hall, S. “A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções do nosso tempo [1]”. In Thompson, K. (Ed.) Media and Cultural Regulation. London: The Open University, 1997. (cap.5). [Tradução em português]


HALL, Stwart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.


Anotações de aula e power points da disciplina Educação contemporânea ministrada pelo professor Dr. Ralph Ings Bannell durante o segundo semestre de 2009 no curso de especialização em Mídia, tecnologia da Informação e Novas Práticas Educacionais.






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